Redatora chefe da Agência Salt conta
como o jornalismo pode sobreviver ao atual sistema de informações
Desafios do jornalismo e os seus caminhos futuros foi a pauta
abordada em entrevista a estudantes do UNIBH. Deysiane Marques, redatora chefe
da Agência Salt, relatou que atualmente a atividade da profissão vem sofrendo
algumas alterações e ganhando novas características, como a instantaneidade.
Segundo ela, a noticiabilidade acontece junto ao fato.
Confira a entrevista:
Deysiane por que você escolheu o Jornalismo?
Eu escolhi o jornalismo porque eu sempre gostei de lidar com gente. E
noticiar, sempre vai ser notícia sobre alguém, por mais que você vá falar,
abordar sobre uma tecnologia, você sempre precisa analisar o impacto que isso
vai gerar pra uma sociedade, então gente.
Gente sempre foi o meu foco e acho que o jornalismo ligava essa minha
vontade de falar pras pessoas, me comunicar com pessoas com as qualidades natas
que eu tinha.
Quais foram os desafios da carreira?
Os primeiros desafios que eu tive, acho que logo nas primeiras
experiências profissionais como estagiária, a necessidade de demonstrar que
você tem mais conhecimentos do que os seus colegas, pra poder se destacar,
sendo que você tá no início de uma carreira né. E no jornalismo, a gente tem
algo que é saber um pouco sobre muita coisa, e se aprofundar muitas vezes nos é
cobrado, mas não faz parte do nosso exercício como profissão, então, é algo
difícil de se alcançar. Na verdade, essa dificuldade eu tive no início da
carreira de um modo mais contundente, mas ainda hoje percebo que é algo cobrado
e difícil de ser desenvolvido na nossa profissão.
Qual a diferença entre o jornalismo de dez anos atrás para o de hoje?
A diferença do jornalismo de ontem para o de hoje, eu entrei na faculdade
de jornalismo em 2008, a velocidade com que a informação é trabalhada hoje, percebo
que, hoje é mais importante você noticiar algo que não está completamente
apurado ainda, por que você precisa “dar o furo”, você precisa noticiar
primeiro, você não pode deixar de falar, porque alguém já vai falar muito
rápido, né. Muitas vezes, a noticiabilidade, ela é, ela ocorre ao mesmo tempo
que o fato em si está acontecendo, então, sinto falta de apuração, sinto falta
de ter tempo pra entender melhor o que tá acontecendo antes de passar. Por isso
até, muitas vezes hoje, notícias vazias são transmitidas; de repente, você não
pensa direito sobre determinado enfoque que você tá dando, porque precisa ser
imediato. Um exemplo: não sei se seria mais interessante divulgar a identidade,
a história, dessas pessoas autoras de massacres que temos hoje, mas não tem
como. Uma vez que se sabe o fato, se sabe quem tá envolvido, você noticia com a
maior velocidade possível, talvez até sem muita apuração, porque você precisa
noticiar rápido; essa velocidade da informação é o que eu percebo como maior
diferença, né, de uns anos pra cá.
Qual conselho você daria para os novos profissionais?
O meu conselho pra quem entra hoje no jornalismo é: ser dinâmico, se você
não é dinâmico, então, é preferível que invista em outra área. Ser humilde,
porque você precisa ouvir as pessoas que estão nessa caminhada a mais tempo que
você; percebo muita gente hoje que, muito foca, que acha que já é maravilhoso,
porque domina muito bem as mídias digitais, mas, jornalismo sempre vai exigir
uma expertise, uma qualidade diferenciada para realmente sentir “cheiro de
notícia” válida, importante, então, ser humilde. E a terceira é ler, ler, ler e
ler, porque você precisa ter um repertório de vocabulário, por que muitas
vezes, uma palavra vai representar muito melhor em determinada situação do que
outra, né, você pode achar que são sinônimos, mas não, certamente haverá uma
que se encaixará melhor e que será mais clara para o público que você pretende
comunicar.
Quais são agora, seus planos para o futuro?
Os meus atuais planos profissionais, já estão em prática. Eu decidi que
eu precisava entender melhor a língua com a qual eu trabalho, né, que é minha
língua nativa, o Português brasileiro. Então, hoje eu curso letras. Outro
passo, é dominar as técnicas de mídias digitais e marketing digital de modo
geral, porque, hoje tudo acontece nesses meios; tudo tem que atender a mood’s
de SEO e de parâmetros de ranqueamento, independente do veículo em que se está,
você precisa dominar essas técnicas. É muito importante saber atender a esse
novo molde, sem perder a qualidade no texto, sem perder a qualidade
jornalística. Então, é muito importante que isso seja entendido, que isso seja
estudado e eu tenho buscado sobre isso, pra poder construir trabalhos
relevantes, seja no próprio jornalismo ou em áreas correlatas, como revisão,
como redação publicitária, e é isso.
Assim, vimos que o jornalismo busca se reencontrar ao traçar
esses novos caminhos para o seu futuro, adquirindo características
proporcionais a esse mundo totalmente conectado em que vivemos. Porém, a
instantaneidade, uma dessas características citadas pela entrevistada, deve ser
bem trabalhada.
Deysiane nos explicou que a velocidade com que a informação é
transmitida nos remete a um grande desafio: noticiar rapidamente um fato
verídico. Essa corrida entre jornalistas e meios de comunicação para dar o furo
da reportagem, em alguns casos, pode levar à propagação de notícias falsas, por
isso a importância da apuração, tanto evidenciada pela redatora chefe da Salt.
Além disso, outras dicas que Deysiane deixou para os universitários foi o
cuidado em procurar conhecer a língua portuguesa, inovar o vocabulário e ler
muito. Dessa forma, os estudantes, futuros jornalistas, terão uma boa formação
e entrarão bem preparados para o mercado de trabalho.
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